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O que é o Projeto VeMulhé!?

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Isso nem consigo detalhar, porque me faz voltar no tempo e ver que sou uma mulher incompleta e infeliz, e mais uma vez fui ameaçada: "não diga nada a ninguém".


Eu não sei quantos anos tinha. Ainda criança, me lembro de um vizinho engraçado, conhecido até hoje na sua profissão. Ele me perguntou se eu gostava dele. Eu respondi que sim, como comediante, brincalhão e tudo mais. Daí, ele disse: "pois me de sua mão e nunca diga a ninguém". E pegou minha mão e conduziu sobre o "negocio" dele. Sai chorando e me escondi. Jamais esqueci. Porém ele nunca deixou de falar comigo e de fazer suas palhaçadas. Me cumprimentava normalmente: "tudo bem?", e pegava a minha minha mão mas não deixava. Minha mãe dizia que eu era mal educada. Ele sabia o motivo da minha rejeição, mas nunca disse a ninguém.

Hoje, adulta, ainda olho para ele com nojo. Tem filhos, ainda vive da profissão de fazer os outros rirem, mas eu continuo com medo. Agora frequenta uma comunidade católica, o que me deixa ainda com mais medo. Infelizmente depois de tanto tempo, já com meus 30 anos, não consigo me relacionar com ninguém.

Pra piorar, fui conhecer a família da minha mãe. Até então, foi maravilhoso. Minhas tias e tios me tratavam tão bem. Me senti em casa, como se conhecesse há tempos. Coisa que nunca tive por parte da família de meu pai. Da primeira vez, fui com a minha mãe, depois de um ano fui novamente, só que sozinha. Primeiro passei na casa de um tio e fiquei uma semana e meia (a pior da minha vida). Fiquei hospedada no mesmo quarto que estive da outra vez com a minha mãe. Tinha porta, mas o meu "tio" me surpreendia às noites, pedindo para entrar assim que a mulher dele dormia. Certa noite, ele entrou, me agarrou e tirou nossas roupas. Tentei gritar mas ele colocou a mão na minha boca. Não tive forças. Senti nojo... Fui estuprada.

Isso nem consigo detalhar, porque me faz voltar no tempo e ver que sou uma mulher incompleta e infeliz, e mais uma vez fui ameaçada: "não diga nada a ninguém". E a dor me consome. Tenho nojo de homens. Sim... infelizmente generalizo totalmente. Por todo esse nojo e pelo meu jeito, sou chamada de "sapatão", "lésbica". Me questionam por eu não ter ninguém a essa altura da idade. Não tenho ninguém porque nunca senti algo que me fizesse, por um momento, esquecer o que passei.

Quando penso estar segura, vem um medo maior...

PS: Não quero ser identificada.

2 comentários:

  1. Pior de tudo é conviver com essa dor sem poder contar a ninguém, o agressor fica a solta, talvez fazendo novas vítimas, seja forte.

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  2. Exatamente! Nós não vamos mais deixar mulher alguma ficar calada.

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Eu fiquei em pé, aí um homem encostou em mim. Senti que ele estava muito grudado...

Um dia eu estava no ônibus, indo pra escola e o ônibus começou a encher de gente; ficou lotado. Eu fiquei em pé, aí um homem encostou em mim...