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domingo, 26 de julho de 2020

Eu fui estuprada pelo meu marido várias e várias vezes e não sabia



A mulher, normalmente, idealiza um bom casamento com uma pessoa que vá ser companheira e dar suporte em muitos pontos na vida.

Não sei nem por onde começar…

Quando começamos a namorar, eu busquei compreender sempre a maneira grosseira como ele me tratava. Ficamos cinco anos juntos antes de, finalmente, casar. Sempre quis me colocar no lugar dele para dar continuidade ao relacionamento. Não tivemos relações sexuais durante o namoro e, acredito, que ele respeitava por questões religiosas. Embora sempre ficasse chateado por eu negar.

Vamos nos casar! Estava feliz no dia, mas HOJE, consigo perceber que essa alegria girava em torno das expectativas que eu tinha sobre o futuro. Eu sempre acreditei que ele mudaria após o casamento. Descobri, no dia da lua de mel, que eu não o amava. A fissura dele por transar era tão grande, que nós mal chegamos ao motel, e ele já demonstrava uma pressa surreal. Para uma virgem, isso é terrível. Sem outra alternativa, posso afirmar que foi um momento traumático. Creio que se tivesse acontecido com alguém realmente especial, teria sido incrivelmente inesquecível. O terror estava só no começo…

Sangrei tanto na minha primeira vez…

Durante as semanas seguintes não houve nenhuma pausa para que eu pudesse me recompor do sangramento e das dores. Tanto pela cobrança social quanto a dele própria, nós éramos jovens casados, portando, sexo todo dia! Percebo que um grande trauma começava daí. Eu passei a me perguntar se isso era mesmo o sentido de um casamento. Se precisávamos mesmo fazer sexo todos os dias.

Se eu ousasse falar “não”, era motivo de ele ficar com raiva. Meu anseio era pela chegada da minha menstruação. Era o único momento onde ele me “respeitava”. Geralmente, as preliminares são importantes, mas, naquela situação, acariciar o pênis dele era um momento de muita repulsa. Era terrível. Até porque, era nesse momento que ele mais me fazia lembrar dos abusos que eu sofri do meu próprio pai, desde os 5 anos de idade.

(Meu pai beijava minha boca, fazia sexo oral em mim e pedia para eu masturbá-lo. Isso sempre acontecia de madrugada. Colocava música caipira bem baixinho todas as vezes que ia me abusar. Sussurrava no meu ouvido: “eu sou seu papai”).

Quando eu estava no meu trabalho, a única coisa que eu pensava era em voltar pra casa e ter que ser usada por ele. Dá para contar os raros momentos em que eu senti vontade MESMO de fazer sexo. A maioria das vezes, quando ele encostava em mim (ele só encostava em mim para isso) eu falava que não queria. Claro, ele ficava emburrado. Então, para ele não ficar zangado, eu virava de costas e dizia: “pode meter”. E ele metia. Sem se preocupar com o fato de que eu nem conseguia lubrificação, sem nem se preocupar na dor que eu sentia. Eu fiz isso muitas vezes para evitar que ele ficasse de mal.

Contudo, ainda era obrigada a ouvir coisas como: “que casamento de merda é esse?”. Acredito que, para ele, casamento de qualidade se resumia a mulher sempre ceder às vontades dele. Eu sempre queria o “sexo” com luz apagada para ele não notar quando eu chorasse. Certa vez, eu não virei de costas e deixei ele meter de novo. Eu não conseguia nem beijá-lo. Fechei meus olhos com toda força e deixei ele fazer o que bem entendia. Ele beijava meu pescoço, beijava meus seios e eu apenas chorava sem esboçar nenhuma reação. Eu sentia que não deveria passar esse “choro” para ele. Com todo nojo, repulsa, agonia eu fiquei e esperei ele terminar de se deleitar do meu corpo.

Nunca tive libido estando com ele. Eu sentia que a culpa disso era minha. Fui ao médico, porque ele falava que eu não fazia questão de “ajudar em nada”. Fiquei extremamente frustrada. Eu ouvia propagandas de rádio sobre estimulantes sexuais e queria comprar, para poder sentir vontade de transar com meu marido. Fui à ginecologista e ela me disse que o anticoncepcional que eu tomava tirava um pouco a libido. Então, conversei com ele a respeito e ele me sugeriu trocar. Neguei. Afinal, o anticoncepcional indicado era três vezes mais caro. Resultado: ele achou ruim. Perguntou se eu queria “continuar desse jeito”.

Não só fui afetada fisicamente por ele, mas psicologicamente, moralmente…

Ele nunca me chamou de amor. Usava sempre apelidos pejorativos como “gambá”. Também não andávamos de mãos dadas. Nunca soube o que era carinho com ele, nem mesmo no meu processo depressivo. Um dia, eu estava me sentindo muito triste e ele ignorou totalmente como eu estava me sentindo. Ele foi deitar e eu fiquei na varanda, olhando pro tempo. Na rádio tocava uma música que falava de quando esperamos alguém de verdade para nossa vida. E era o que eu queria para a minha.

Com todo esse meu sofrimento, quem ainda terminou o casamento foi ele. Foi embora por estar de saco cheio “desse casamento de merda”. Sofri um pouco, mas foi uma libertação muito singular na minha vida. Com o tempo e outros relacionamentos, descobri que eu tenho libido SIM. E muito! E que a culpa desse “casamento de merda” nunca foi minha.

Descobri o que eu vivia dentro desse casamento, ao ter acesso à história de uma jovem de vinte anos que foi estuprada pelo próprio namorado. A maneira como tudo ocorreu, me despertou para um ponto crucial que reside dentro de tantos “lares”: sexo sem consentimento. Eu fui estuprada pelo meu marido várias e várias vezes e não sabia. Só descobri que isso aconteceu comigo depois de ouvir o que houve com outra mulher.

De certo modo, não devemos julgar as mulheres que vivem dentro de relacionamentos abusivos, pois nem todas têm a percepção tão precisa quanto quem vê de fora.


Julgar é sempre mais fácil.

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