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sábado, 3 de fevereiro de 2018

falei que queria ir embora e lembro dele sorrir, apertar meu joelho e soltar um "gostosa, sei que você gosta"



"Eu tinha apenas 6 ou 7 anos quando passei pela primeira situação de assédio sexual. Não me recordo exatamente do local, porém lembro da situação. Era um encontro de amigos (meus pais costumavam estar sempre entre amigos, familiares, compadres e conhecidos, para almoços misturados com farras de adulto). Em uma dessas reuniões, lembro de estar em uma casa grande, com outras crianças no local. Em um determinado momento, fui pra dentro da casa que tinha diversas saídas para uma garota que queria apenas brincar de correr. Lembro de um homem (conhecido do meu padrinho e meu pai), mas não sei quem ele era, me chamar no canto. Eu fui e ele me pegou no colo, de frente para ele e me levantou com as costas na parede. Passou a mão na minha calcinha por baixo do meu vestido e ao mesmo tempo falava pra eu não contar nada a ninguém. Demorou menos de 1 minuto, porém tempo suficiente para ficar registrado na minha memória. O tempo passou, eu realmente nada fiz sobre aquela situação. Pra ser sincera não lembro direito nem qual foi meu comportamento pós o ocorrido, sei que fiquei mais próxima da minha mãe sem a liberdade que até então eu tinha para brincar por todos aqueles corredores.

Muito tempo se passou desde aquela situação. Eu cresci e tive um resto de infância bem feliz e proveitoso como qualquer outra criança. Quando eu tinha 11 anos, novamente eu vivi uma situação de assédio. Dessa vez foi o meu primo, 13 anos mais velho que eu. Eu tinha uma relação bem próxima a ele. Gostava de estar por perto, trocar carinho, me sentia protegida e bem. Acho que muito disso vinha da minha enorme vontade de ter um irmão mais velho (eu só tinha uma irmã). Uma certa vez, fui passar o fim de semana  na casa dele como de costume junto à minha mãe e irmã. E fui assistir filme no quarto dele. O quarto era pequeno, tinha uma beliche pois esse meu primo dividia o mesmo com o irmão, uma TV pequena na parede oposta ao local que as camas ficavam encostadas e muitas coisas do Flamengo. Ele era, ou melhor é fissurado no time do Flamengo. Ele estava deitado na cama de baixo e eu sentada no chão, com as costas encostadas na cama. Em determinado momento, meu primo me puxou pra perto dele e encostou a boca na minha orelha e começou a chupá-la, com a respiração bem acelerada. Eu olhei para ele meio assustada, mas ele segurava forte meu pescoço, fazendo sinal de silêncio com o dedo indicador e passando a língua na minha boca. Na hora senti que aquilo não era certo e falei pra ele parar. Mas ele insistiu e perguntou se eu não estava gostando. Confesso que aquela situação me despertou reações corporais. Sim, eu gostei de sentir aquilo, me deu um certo prazer, mas eu sabia que aquele ato era errado. Mas ele insistiu, e acabou chupando outra vez a minha orelha, com mais força e a respiração mais acelerada ainda. Virava meu rosto e passava a língua na minha boca, me apertava forte, mesmo que de uma forma desajeitada pela posição em que nos encontrávamos. Acredito que este é o momento em que você que lê esse relato para e pensa: "mas peraí, acabo de ler que gostou de viver essa situação, então  na verdade você que era bem safadinha pra sua idade. Afinal acabou aproveitando a situação também" ou pode estar fazendo outra pergunta do tipo "Nossa que mãe é essa que deixa a filha ficar dentro de um quarto com o primo e não vai verificar se está tudo bem com a ela?" E então eu digo, calma... Para as duas perguntas existem respostas!

Para a primeira, digo que essa culpa que alguns de vocês podem me atribuir eu mesma senti naquele exato momento, eu mesma me questionei se de alguma forma não teria provocado tudo aquilo. Confesso, nunca fui uma criança tímida, nem recatada. Mas era APENAS UMA CRIANÇA!!! . E me desculpem os julgadores, mas as explosões hormonais surgem na vida de qualquer pessoa e comigo não seria diferente. Eu sei que era muito nova, mas talvez se não tivessem me atiçado e estimulado eu demoraria mais para sentir tais prazeres. Com relação a segunda pergunta, pelo amor de Deus, não culpem minha mãe. Ela sempre foi mais do que presente e uma leoa para me defender de todo e qualquer mal. Lembrem-se que eu estava em família e que mãe vai imaginar que uma relação tão bonita e carinhosa entre primos possa ter algo de tão tenebroso assim? 

A terceira situação em que me deparei com o assédio sexual não demorou pra acontecer. Eu tinha entre 12 e 13 anos e pasmem foi o meu cunhado. Postiço que fique claro (ele casou com uma pessoa muito próxima que minha mãe tem como filha). Esse foi/é o mais nojento de todos e que ainda hoje me causa muita repulsa toda vez que vejo a pessoa (ainda existe o contato, como afirmei, é meu cunhado postiço). Ele já era um homem feito, inclusive já tinha uma filha de um relacionamento anterior ao casamento. Como disse, a pessoa com quem ele casou é minha irmã de coração e eu como a irmã mais nova adorava passar os fins de semana e parte das férias na casa dela. Em vários desses momentos é que as situações aconteciam. Começou com os olhares, eu sentia que aquele olhar que ele despojava sobre mim não era um olhar parental. Tinha algo a mais, mas não sabia o motivo. E sabe aquela culpa que citei na situação com meu primo? Pois bem ela tornava a me acompanhar. E eu me sentia responsável por aquilo acontecer. Posterior aos olhares, uma vez minha irmã pediu para ele ir comprar lanche e ele me chamou como companhia. Fiquei resistente contudo minha irmã insistiu e acabei cedendo. Entrei no carro no banco da frente. E no caminho da mercearia ele parou o automóvel rente ao meio fio e me puxou para junto dele. Me apertando e beijando a minha orelha. Empurrei e falei que queria ir embora e lembro dele sorrir, apertar meu joelho e soltar um "gostosa, sei que você gosta" com um sorriso de canto de boca. Disse novamente que queria ir embora e que se não parasse eu iria contar pra minha irmã. Ele mais uma vez, apertou meu joelho e disse "tudo bem", ainda com o sorrisinho.  Descemos do carro, ele comprou o lanche e eu apreensiva comecei a me culpar por aquilo ter acontecido, e em vez de enxergar o erro no ato dele, enxergava a minha "atitude errada" perante a minha irmã. No caminho de volta para o carro fui na frente para evitar a aproximação e ele veio por trás e me abraçou com força pela cintura, me dando mais uma vez uma lambida na orelha. Resisti a entrar no carro e ele ameaçou que se eu não entrasse, a história seria contada do jeito dele pra minha irmã. Entrei no carro muda, acuada, meio atordoada mas também muito culpada. Ele estava normal, semblante tranquilo de um "bom marido" que aparentava ser. Ao chegar próximo a casa dele, lembro de mais uma apertão na perna, dessa vez seguido de um tapa na mesma e um "gostosa" bem enfático. Estacionamos e tudo parecia normal. Para a minha alegria no dia seguinte eu iria embora e então fui logo tomar banho e me deitar para dormir na esperança de tudo aquilo passar logo. Passado um tempo, escutei a minha irmã entrar para o banho, até então não tinha pregado o olho, porém não tinha coragem de ficar junto à ele como se nada tivesse acontecido. De repente vejo a porta do quarto em que estava abrir. Imediatamente percebi que era ele. Fechei os olhos como se estivesse dormindo. Ele veio, se aproximou bem devagar e apertou o meu bumbum, deu uma suspirada entre a minha orelha e pescoço, novamente me chamando de gostosa. O meu susto com a ação dele, gerou um barulho o que o fez sair imediatamente do quarto ao mesmo tempo que minha irmã do banheiro escutara e questionava o que havia acontecido. Ele em sua tamanha cara de pau alegou que havia deixado cair um objeto.

Depois disso evitei passar os finais de semana e férias na casa da minha irmã, mas como não tive coragem de contar pra ninguém, muitas vezes ainda precisava frequentar o local porque não tinha uma explicação lógica para tal ação. E novamente me calei. Sabia que aquilo era errado, mas achava muito forte dizer algo sobre aquilo. Sabia também que aquele assunto geraria algum desgaste, e porque não achar que a culpa de tudo aquilo era minha? Que talvez não era eu com meus vestidos e shorts e corpo tomando forma, típico de uma menina de 13 anos que provocara aquela situação? Os anos passaram, mas os assédios não. Apenas mudaram a forma de ocorrer. Esse vinham mascarados em um abraço no cumprimento de chegada ou despedida familiar. Cada abraço que recebia vinha com uma mão boba bem disfarçada ou um apertão ou sussurro ao pé do ouvido. Demorei certo tempo pra perceber a gravidade de tudo o que vivi. Hoje tenho 33 anos, e é a primeira vez que comento sobre isso. Tenho tanto nojo de pensar que pessoas tão próximas são as mesmas pessoas que nos causam repulsa nos noticiários da TV. Tive a vontade de contar, mas ainda não tenho a coragem de me revelar. Sim, eu tenho vergonha e não me peçam para não ser desta forma. Só quem passa por situação semelhante pode mensurar o tamanho do estrago que tudo isso pode causar. Não estou aqui defendendo o silêncio. Muito pelo contrário, a denúncia DEVE existir. Mas é preciso confiança. Por isso pais e mães, NUNCA duvidem de um relato, conversem com seus filhos para que eles compreendam que podem e devem confiar em vocês. Por mais chocante que seja, entendam que o perigo existe e muitas vezes está ao nosso lado. 

Como já falei, hoje, aos 33 anos, posso perceber uma série de consequências geradas pelas situações vividas. Hoje percebo a explicação para tantos medos, receios ou bloqueios em minha vida. Sigo em frente, esse passado não pode ser apagado mas não procuro não permitir que ele se faça presente nos meus dias. A falta de coragem em me revelar não torna em momento algum essa história menos importante e cruel. Reviver tudo isso ainda que na produção de um texto, automaticamente me tira lágrimas dos olhos. E sinceramente, desejo que na sua mente gere muita reflexão..."

2 comentários:

  1. É quase sempre assim que essas coisas acontecem.
    Sempre um maldito que está sempre por perto!

    Minha solidariedade a você mulher! ��

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