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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

"A minha mãe, além de esconder do meu pai, deu um jeito de manipular minhas ideias. Trabalhou para que eu acreditasse que aquilo tudo não passava da minha imaginação."




Eu tinha, apenas, cinco anos...



Como de costume, a minha mãe me levava para brincar na casa de uma coleguinha, mas, nesse dia, ela não pôde e eu fui sozinha. As nossas casas eram bem próximas.

Tínhamos um vizinho que era muito amigo do meu pai desde que nos mudamos para aquele bairro. Era um cara que frequentava muito a nossa casa. Lembro-me que, inclusive, a minha tia tinha um caso com ele.

Pois bem, ele então me viu sozinha, me chamou e me levou para a casa dele. Fica difícil descrever tantos detalhes, pois foi há muito tempo. No entanto, posso afirmar que tudo ocorreu numa espécie de porão. Ele usou o polegar para introduzir na minha vagina. Me machucou até sangrar.
Não recordo quanto tempo aquela tortura durou, mas sei que, quando acabou, fui correndo contar tudo para a minha mãe. Foi nesse exato momento que aconteceu outra coisa ainda mais estranha. A minha mãe, além de esconder do meu pai, deu um jeito de manipular minhas ideias. Trabalhou para que eu acreditasse que aquilo tudo não passava da minha imaginação.

Não sei precisar o quanto isso afetou a minha vida. Só sei que minha mãe conseguiu fazer com que o fato caísse no meu esquecimento. Simplesmente, adormeceu.

15 anos depois, já casada, fui visitar meu pai (ele já não estava com a minha mãe) e, por coincidência, o monstro estava lá. Na hora, entrei em pânico. Tudo o que ele fez comigo veio a tona na minha cabeça. Despertou, ressurgiu bruscamente. Eu sentia repulsa, medo e calafrios por todo o corpo.

Retornei à Brasília e fui imediatamente questionar a minha mãe que logo confirmou. Olhou para mim e disse que havia mesmo ocorrido e que, por medo de apanhar ou ser morta pelo meu pai, calou... Achou melhor tentar fazer com que eu me esquecesse.

Por mais que muito tempo já tenha passado, eu não consigo ter um bom relacionamento com a minha mãe depois do que ela confessou, afinal, também sou mãe, e tudo que quero é proteger meus filhos. Então, torna-se impossível acreditar que ela tenha reagido tão covardemente diante do (praticamente) estupro da própria filha com CINCO ANOS.

Após o término do meu segundo longo relacionamento, estou fazendo tratamento psicológico para tentar entender aonde mais isso tem afetado direta ou indiretamente áreas da minha vida. Só agora vejo porquê sempre tive nojo de homens mais velhos.

Ao ler os relatos que a Kamilla tem compartilhado aqui, tenho sentido muita tristeza e impotência. Além da psicóloga e da minha mãe, só tive coragem de contar para ela -- em consequência da coragem que outras mulheres tiveram ao contar suas histórias.

Não sei lidar com nada disso. Talvez, por medo ou pela tristeza de lembrar que quem poderia ter me ajudado, negou socorro. Na época, minha mãe até conversou com o monstro, mas, obviamente, ele negou tudinho. Ao menos, serviu para ele não chegar mais perto de mim.

Doeu fisicamente, doeu o constrangimento, doeu o trauma, doeram as incertezas, mas nada é capaz de ferir mais que a negligência da minha própria mãe.
Por hoje, foi só o que consegui falar. É certamente algo que me incomoda bastante, porém, espero que meu relato possa contribuir para a libertação de outras meninas e mulheres.

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