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quarta-feira, 13 de maio de 2020

Eu nunca havia me sentindo tão suja, tão humilhada, tão destruída e com tanta vergonha



Tenho vinte e quatro anos, sou mãe de uma princesa de nove, e sim, engravidei muito nova. 

Entre os meus 16 e 17 anos, fui estuprada e carrego marcas disso até hoje. Foi o pior que poderia ter me acontecido. Afinal, uma coisa é você conceder uma relação; outra é você ser pega à força. 

Já se passaram mais de 7 anos e aquela cena não sai do meu pensamento. É como se eu a revivesse quase diariamente. Como fui mãe muito nova, tive que estudar à noite. 

Certo dia, indo para escola, fui abordada por um cara drogado. Ele me puxou pelos cabelos e me arrastou pro matagal, gritando o tempo inteiro comigo. Em seguida, cortou todo o meu cabelo. Depois me espancou e me estuprou. 

Eu nunca havia me sentindo tão suja, tão humilhada, tão destruída e com tanta vergonha. Ele foi embora e me deixou ali ferida e com as minhas roupas todas rasgadas. A única coisa que eu conseguia fazer era chorar. 

Voltei correndo para casa praticamente nua. Não tive coragem de entrar, então fiquei sentada no portão chorando muito e desesperadamente. Meu padrasto saiu e quando o vi, a única coisa que eu soube fazer foi correr para dentro do banheiro e tomar um banho. Não queria sair debaixo do chuveiro. Ele, desesperado, começou a bater na porta e me perguntar o que tinha acontecido. Eu estava com muita vergonha. 

Logo depois, minha mãe e meu irmão chegaram em casa e me viram naquela situação. Contei por alto o que havia acontecido e eles me levaram para a delegacia. Dei meu depoimento, fui para ao IML, logo após, ao hospital tomar todos aqueles coquetéis. Nossa... como eram horríveis! Passei mais de seis meses tomando diariamente. 

Tentei suicídio várias vezes porque nada diminuía aquela dor de invasão que eu estava sentindo. Tive acompanhamento de uma psicóloga por mais de dois anos, então, fui voltando a ter uma vida, aparentemente, normal. Lógico que existem momentos felizes, mas até hoje ainda dói em mim. E o que poucos sabem é que essa dor persiste, pois quem está de fora, depois de um tempo, esquece. Acham que foi superado, mas só quem é estuprada sabe, de fato, como se sente por dentro e como é difícil.

Em relação aos meus cabelos, ainda não consigo pensar em deixá-los crescer. Eram lindos e longos. Até dois anos atrás, eu os cortava escondida para retardar o crescimento. As pessoas sempre me falam que devo superar, que devo seguir em frente; que devo sim permitir que meus cabelos cresçam novamente. Eu já tentei, mas, para mim, é muito doloroso. Machuca... é uma guerra minha comigo mesma todos os dias.

É um terror lembrar! Sinto que estou revivendo tudo que aconteceu. Pois só eu sei o inferno que passei naquele lugar, com aquele cara, àquela noite.

A gente luta pela própria vida dia após dia.

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